Este Quarto
de Mário QuintanaQue me importa este quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu!
Que me importa este quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu!
A noite abria a frescura
Dos campos todos molhados,
- Sozinha, com o seu perfume!
Cada palavra tinha o seu sentido...
Como as entenderia - eu,
tão pobre de espírito?
Essa tristeza que um sorriso de amor nem mesmo aclara,
Parece vir de alguma fonte amara ou de um rio de dor...
Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.
A lua multiplicou-se em todos os poços e poças.
Tudo está sob a encantação lunar...
E que importa?
Uma luz qualquer, durante o dia,
Que, às vezes, fica, por descuido, acesa,
Causa-nos mal-estar...
Trago-te palavras, apenas...
e que estão escritas
do lado de fora do papel...
O que há sob essa máscara é um pranto seco,
pranto final, sem lágrimas, calado,
sem esponja de fel e último brado.
Há mais do inferno ali do que do paraíso...
O amor é tão-somente um pretexto de riso
Para esse coração flutuante e singular.
O pontinho escuro anima-se; e, ágil, breve,
Salta aqui, salta ali e vem pousar em mim.
Sinto-o no corpo: o inseto, a mais e mais se atreve.
Vive do riso duma boca fria:
Minh’alma é a Princesa Desalento…