Via Láctea, XXV
de Olavo BilacMestre querido! Viverás, enquanto
Houver quem pulse o mágico instrumento,
E preze a língua que prezavas tanto
Mestre querido! Viverás, enquanto
Houver quem pulse o mágico instrumento,
E preze a língua que prezavas tanto
Este eterno viver insatisfeito
Tudo isso mostra bem
Que a mente humana em dúvidas se abisma.
Talvez uma visão resplandecente
Lhe amostrou no futuro
A sonorosa tuba...
Mas nesta rua há um operário triste:
Ele trabalha silenciosamente...
E sentes alta noite no teu leito
Minh'alma na tua alma repousando,
Repousando meu peito no teu peito...
Tu que também o Purgatório andaste,
Tu que rompeste os círculos do Inferno,
Camões!
Não esperes achar compensações na terra:
Se fizeres o bem, prêmio nenhum terás.
Mas não culpes ninguém.
É a vida.
Aceita a vida...
E sei apenas do meu próprio mal,
Que não é bem ou mal de toda a gente.
A névoa cresce, e, em grupos repartida,
Enche os ares de sombras vaporosas:
Sombras errantes...
Que cantou ele? A vossa mesma raça.
De que modo? Na lira alta e potente.
Toca essa música de seda, frouxa e trêmula
que apenas embala as estrelas noutro mar.
Toca essa música de seda, entre areias e nuvens e espumas.
Parece que estou vendo com os ouvidos:
"Couves! Abacaxis! Caquis! Melões!"