Por que mentias?
de Álvares de AzevedoSabe Deus se te amei!
Sabem as noites
essa dor que alentei,
que tu nutrias!
Manuel Antônio Álvares de Azevedo (São Paulo, Província de São Paulo, Império do Brasil, 12 de setembro de 1831 — Rio de Janeiro, Império do Brasil, 25 de abril de 1852) foi um escritor da segunda geração romântica (Ultrarromântica, Byroniana ou Mal-do-século), contista, dramaturgo, poeta e ensaísta brasileiro, autor de Noite na Taverna.
Filho de Inácio Manuel Álvares de Azevedo e Maria Luísa Silveira da Motta Azevedo, passou a infância no Rio de Janeiro, onde iniciou seus estudos. Voltou a São Paulo, em 1847, para estudar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde, desde logo, ganhou fama por brilhantes e precoces produções literárias. Destacou-se pela facilidade de aprender línguas e pelo espírito jovial e sentimental.
Durante o curso de Direito traduziu o quinto ato de Otelo, de Shakespeare; traduziu Parisina, de Lord Byron; fundou a revista da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano (1849); fez parte da Sociedade Epicureia; e iniciou o poema épico O Conde Lopo, do qual só restaram fragmentos.
Não concluiu o curso, pois foi acometido de uma tuberculose pulmonar nas férias de 1851-52, a qual foi agravada por um tumor na fossa ilíaca, ocasionado por uma queda de cavalo, falecendo aos 20 anos. No entanto, vale ressalva, a causa mortis do autor é um tema historicamente controverso, com diferentes hipóteses.
A sua obra compreende: Poesias diversas, Poema do Frade, o drama Macário, o romance O Livro de Fra Gondicário, Noite na Taverna, Cartas, vários Ensaios (incluíndo “Literatura e civilização em Portugal”, “Lucano”, “George Sand” e “Jacques Rolla”) e Lira dos vinte anos
Suas principais influências são: Goethe, François-René de Chateaubriand, mas principalmente Alfred de Musset.
Figura no cânone da poesia brasileira. Foi muito lido até as duas primeiras décadas do século XX, com constantes reedições de sua poesia e antologias. As últimas encenações de seu drama Macário foram em 1994 e 2001. É patrono da cadeira 2 da Academia Brasileira de Letras.
Escola Literária: (Romantismo/ Ultra Romantismo)
Sabe Deus se te amei!
Sabem as noites
essa dor que alentei,
que tu nutrias!
Um romance cantou de despedida,
Mas a saudade amortecia o canto!
Meu desejo? era ser a luva branca
Que essa tua gentil mãozinha aperta
A vida é uma planta misteriosa
Cheia d’espinhos, negra de amarguras
Onde só abrem duas flores puras…
Junto de teu seio
Que treme-te e palpita em doce enleio
Beba eu o amor que teu olhar revela.
Eu vivia no doce alento
dessa virgem bela…
Tanto amor, tanto fogo
Se revela naqueles olhos negros!
E nos olhos azuis cheios de vida
Lânguido véu de involuntário pranto!
É esse o talismã, é essa a Armida,
O condão de meus últimos encantos…
A grande distância que entre nós estiver
Lembrança de ti não me fará perder.
Faz que tua alma a distância também vença!
Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos, por piedade
Meus tristes ais vão revelando
Que peno e morro de amorosas dores…
Morro, morro por ti!
O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.
Era a virgem do mar! na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!