Destruição
de Carlos Drummond de AndradeDois amantes que são?
Dois inimigos.
Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar.
Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987) foi um poeta, contista e cronista brasileiro, considerado por muitos o mais influente poeta brasileiro do século XX. Drummond foi um dos principais poetas da segunda geração do Modernismo brasileiro.
Drummond nasceu na cidade de Itabira, em Minas Gerais. Sua memória dessa cidade viria a permear parte de sua obra. Seus antepassados, tanto do lado materno como paterno, pertencem a famílias de há muito tempo estabelecidas no Brasil. Posteriormente, foi estudar no Colégio Arnaldo, em Belo Horizonte, e no Colégio Anchieta, dos jesuítas, em Nova Friburgo. Formado em farmácia pela Universidade Federal de Minas Gerais, com Emílio Moura e outros companheiros, fundou “A Revista”, para divulgar o modernismo no Brasil.
Em 1925, casou-se com Dolores Dutra de Morais, com quem teve dois filhos, Carlos Flávio, que viveu apenas meia hora (e a quem é dedicado o poema “O que viveu meia hora”, presente em Poesia completa, Ed. Nova Aguilar, 2002), e Maria Julieta Drummond de Andrade.
No mesmo ano em que publica a primeira obra poética, “Alguma poesia” (1930), o seu poema Sentimental é declamado na conferência “Poesia Moderníssima do Brasil”, feita no curso de férias da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, pelo professor da Cadeira de Estudos Brasileiros, Dr. Manoel de Souza Pinto, no contexto da política de difusão da literatura brasileira nas Universidades Portuguesas. Existe colaboração de sua autoria no semanário Mundo Literário (1946–1948). Durante a maior parte da vida, Drummond foi funcionário público, embora tenha começado a escrever cedo e prosseguisse escrevendo até seu falecimento, que se deu em 1987 no Rio de Janeiro, doze dias após a morte de sua filha. Além de poesia, produziu livros infantis, contos e crônicas. Sua morte ocorreu por infarto do miocárdio e insuficiência respiratória.
Em 1987, meses antes de sua morte, a escola de samba Mangueira o homenageou no Carnaval com o enredo “O Reino das Palavras”, sagrando-se campeã do Carnaval Carioca naquele ano.
Drummond, como os modernistas, segue a libertação proposta por Mário de Andrade e Oswald de Andrade; com a instituição do verso livre, mostrando que este não depende de um metro fixo. Se dividirmos o modernismo numa corrente mais lírica e subjetiva e outra mais objetiva e concreta, Drummond faria parte da segunda, ao lado do próprio Oswald de Andrade.
Escola Literária: Modernismo
Dois amantes que são?
Dois inimigos.
Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
Mãe,
na sua graça,
é eternidade.
O mundo é grande e cabe nesta janela…
O mar é grande e cabe na cama…
O meu amor faísca na medula,
pois que na superfície ele anoitece
Bela
esta manhã ou outra possível,
esta vida ou outra invenção
e a tudo me arremesso, nesse quando
amanhece frescor de coisa viva
Mas uma luz que ninguém soube
dizer de onde tinha vindo
apareceu para clarear o mundo
A pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto…
O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
amar é o sumo da vida.
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira