A Formiga
de Hermes FontesE dizer-se que não tens nervos, ó nervosa,
Dizer que não tens alma!
Tão pequenina és tu, e, astuta e laboriosa…
Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo Fontes (Boquim SE 1888 – Rio de Janeiro RJ 1930). Funda o jornal Estréia, com Júlio Surkhow e Armando Mota, em 1904, no Rio de Janeiro. Forma-se bacharel em direito em 1911, mas não exerce a profissão. De 1903 ao final da década de 1930 colabora em periódicos como os jornais Fluminense, Rua do Ouvidor, Imparcial, Folha do Dia, Correio Paulistano, Diário de Notícias e as revistas Careta, Fon-Fon!, Tribuna, Tagarela, Atlântida, entre outras. Atua também como caricaturista do jornal O Bibliógrafo. No período, trabalha como funcionário dos Correios e oficial de gabinete do ministro da Viação.
Em 1913 publica seu primeiro livro de poesia, Gênese. Seguiram-se Ciclo da Perfeição (1914), Miragem do Deserto (1917), Microcosmo (1919), A Lâmpada Velada (1922) e A Fonte da Mata… (1930), entre outros. A poesia de Hermes Fontes é de estética simbolista.
Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo Fontes, ou simplesmente Hermes Fontes, teve seu nome emprestado a umas das mais movimentadas avenidas de Aracaju, onde poucos conhecem a história desse irreverente artista, poeta, escritor, caricaturista e gênio sergipano.
No Rio, Hermes pode contribuir com a imprensa carioca como poeta, como crítico e chegou a escrever dez livros, entre eles, a obra poética “Apoteoses”, que o consagrou como um dos melhores poetas brasileiros. Dele disse o poeta Olavo Bilac: “É Hermes Fontes um moço, quase um menino cujo livro Apoteoses é uma revelação de força lírica”. O livro influenciará a poesia brasileira no começo do século XX. O gênio sergipano sonhava ser o Príncipe dos poetas e membro da academia Brasileira de Letras.
Hermes Fontes era considerado um homem romântico, sisudo e depressivo. Sem conseguir atingir seus objetivos de vida, solitário, sem o carinho da mãe, distante de sua terra natal e traído pelo seu grande amor, o poeta encerra sua vida numa noite de natal de 1930 com um tiro de revólver no ouvido. O grande poeta sergipano foi sepultado ao lado do túmulo do escritor Lima Barreto.
Escola Literária: (Simbolismo)
E dizer-se que não tens nervos, ó nervosa,
Dizer que não tens alma!
Tão pequenina és tu, e, astuta e laboriosa…
Meu ser é a comunhão de dois seres diversos.
Dois seres — um, a Carne, outro, o Espírito…
Outrora, foste um jardim,
e és, agora, eternidade!
Minha Felicidade!… hei de atingi-la!
+Silêncio, vêm de ti o que falo e o que escrevo,
meu professor de calma e de meditação!
Meu Ideal, és uma águia, dessas grandes
águias que se aventuram céus além…
As cousas todas são
prodígios de impureza e imperfeição!
O pontinho escuro anima-se; e, ágil, breve,
Salta aqui, salta ali e vem pousar em mim.
Sinto-o no corpo: o inseto, a mais e mais se atreve.
Noite quer dizer sono e quer dizer loucura:
aquele – exerce-o o corpo em tréguas;
esta, exerce-a a alma – boêmia…
É um ser anímico esse objeto inanimado:
– arde o pavio, e, entanto, o que se esvai é a cera…
– dói a alma, e o corpo é que se faz mortificado…
O rio, surdo e cego à ameaça estranha,
Vai correndo, monótono e tranqüilo…