Livre!
de Cruz e SousaLivre da humana,
da terrestre bava
dos corações daninhos
que regelam,
quando os nossos sentidos
se rebelam
João da Cruz e Sousa (Nossa Senhora do Desterro, 24 de novembro de 1861 — Curral Novo, 19 de março de 1898) foi um poeta brasileiro.
Com a alcunha de Dante Negro ou Cisne Negro, foi um dos precursores do simbolismo no Brasil.
Segundo Antonio Candido, Cruz e Sousa foi o “único escritor eminente de pura raça negra na literatura brasileira, onde são numerosos os mestiços”.
Livre da humana,
da terrestre bava
dos corações daninhos
que regelam,
quando os nossos sentidos
se rebelam
Estás morto, estás velho, estás cansado!
+É quem ficou no mundo redimido,
expurgado dos vícios mais singelos
e disse a tudo o adeus indefinido…
Eu rio-me de vós
e cravo-vos as setas
ardentes do olhar
Nunca ninguém tão firme combateu
Da humanidade todas as torturas.
Mais claro e fino do que as finas pratas
o som da tua voz deliciava…
Ninguém te viu o sentimento inquieto,
magoado, oculto e aterrador, secreto,
que o coração te apunhalou no mundo.
Seja bendito o fruto do teu ventre, Jesus,
Mais belo dentre os astros…
Ó mar! ó mar! embora esse eletrismo,
Tu tens em ti o gérmen do lirismo,
És um poeta lírico demais.
Velhas tristezas
das almas que morreram para a luta!
Sois as sombras amadas de belezas
hoje mais frias do que a pedra bruta.
É por aqui que passam meditando,
Que cruzam, descem, trêmulos, sonhando,
Neste celeste, límpido caminho,
Os seres virginais que vêm da Terra
Podridão feita deusa de granito
que surges dos mistérios do Infinito