Não Te Amo
de Almeida GarretNão te amo, não.
E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror…
João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett e mais tarde 1.º Visconde de Almeida Garrett, (Porto, 4 de fevereiro de 1799 — Lisboa, 9 de dezembro de 1854) foi um escritor e dramaturgo romântico, orador, par do reino, ministro e secretário de estado honorário português.
Grande impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do romantismo português, foi ele quem propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática.
João Leitão da Silva nasceu a 4 de fevereiro de 1799, na antiga Rua do Calvário, n.ºs 18, 19 e 20 (actual Rua Dr. Barbosa de Castro, n.ºs 37, 39 e 41), na freguesia da Vitória, no Porto, filho segundo de António Bernardo da Silva Garrett (1740-1834), selador-mor da Alfândega do Porto, e de Ana Augusta de Almeida Leitão (1770-1841), casados em 1796. Neto paterno de José Ferreira da Silva e Antônia Margarida Garrett, materno de José Bento Leitão e Maria do Nascimento de Almeida. Foi baptizado na Igreja Paroquial de Santo Ildefonso a 10 de Fevereiro de 1799.
Em 1816 foi para Coimbra, onde acabou por se matricular no curso de Direito. Em 1818 adoptou em definitivo os apelidos Almeida Garrett (Garrett seria o apelido da sua avó paterna, que tinha vindo para Portugal no séquito de uma princesa), pelos quais ficou para sempre conhecido, passando a assinar-se João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett. Em 1821 publicou O Retrato de Vénus, trabalho que fez com que fosse processado por ser considerado materialista, ateu e imoral, tendo sido absolvido.
Escola Literária: (Romantismo)
Não te amo, não.
E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror…
O excesso de gozo é dor.
Dói-me alma, sim; e a tristeza
Vaga, inerte e sem motivo,
No coração me poisou.
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem…
Ai! não mo disse ninguém.
Não tinham luz de brilhar.
Era chama de queimar
A brisa vaga no prado,
Perfume nem voz não tem;
Quem canta é o ramo agitado,
O aroma é da flor que vem.
Esta chama que alenta e consome,
Que é vida – e que a vida destrói –
Como é que se veio a atear?