Evolução
de Antero de QuentalHoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme:
Interrogo o infinito e às vezes choro…
Antero Tarquínio de Quental (Ponta Delgada, 18 de abril de 1842 — Ponta Delgada, 11 de setembro de 1891) foi um escritor e poeta português do século XIX que teve um papel importante no movimento da Geração de 70.
Nascido na Ilha de São Miguel, Açores, filho do combatente liberal Fernando de Quental (Solar do Ramalho – do qual mandou tirar a pedra de armas da família -, 10 de maio de 1814 – Ponta Delgada, Matriz, 7 de março de 1873) e de sua mulher Ana Guilhermina da Maia (Setúbal, 16 de julho de 1811 – Lisboa, 28 de novembro de 1876). O casal teve sete filhos, sendo Antero o quarto, numa família onde proliferavam as mortes prematuras e a loucura.
Em 1861, publicou os seus primeiros sonetos. Quatro anos depois, publicou as Odes Modernas, influenciadas pelo socialismo experimental de Proudhon, enaltecendo a revolução. Nesse mesmo ano iniciou a Questão Coimbrã, em que Antero e outros poetas foram atacados por António Feliciano de Castilho, por instigarem a revolução intelectual. Como resposta, Antero publicou os opúsculos Bom Senso e Bom Gosto, carta ao Exmo. Sr. António Feliciano de Castilho, e A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais.
Em 1890, devido à reacção nacional contra o ultimato inglês, de 11 de janeiro, aceitou presidir à Liga Patriótica do Norte, mas a existência da Liga foi efémera. Quando regressou a Lisboa, em maio de 1891, instalou-se em casa da irmã, Ana de Quental. Portador de distúrbio bipolar, nesse momento o seu estado de depressão era permanente. Após um mês, em junho de 1891, regressou a Ponta Delgada, cometendo suicídio no dia 11 de setembro de 1891, com dois tiros, num banco de jardim junto ao Convento de Nossa Senhora da Esperança, onde está na parede a palavra “Esperança”, no Campo de São Francisco, cerca das 20:00 horas.
Os seus restos mortais encontram-se sepultados no Cemitério de São Joaquim, em Ponta Delgada.
Escola Literária: (Realismo/Naturalismo)
Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme:
Interrogo o infinito e às vezes choro…
Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão e empalideces…
É por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.
Por ti, na arena trágica, as nações
Buscam a liberdade, entre os clarões…
Mas se paro um momento,
se consigo fechar os olhos,
sinto-os a meu lado de novo
Erma, cheia de tédio e de quebranto,
Rompendo os diques ao represo pranto,
Virou-se para Deus minha alma triste!
Mas, se a beleza aqui nos aparece,
Logo outra lembra de mais puros gozos.
Minha alma, ó Deus! a outros céus aspira:
Espectros dos meus próprios pensamentos,
Como um bando levado pelos ventos,
arrebatado em vastos turbillhões…
A mim mesmo pergunto, e não atino
Com o nome que se dê a essa visão,
Que ora amostra ora esconde o meu destino…
Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado enevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Ergue-te, pois, soldado do Futuro
+A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.