Velho Estilo
de Cecília MeirelesCoisa que passas, como é teu nome?
De que inconstância foste gerada?
Abri meus braços para alcançar-te:
fechei meus braços, – não tinha nada!
De ti só resta o que se consome.
Vais para a morte? Vais para a vida?
Tua presença nalguma parte
É já sinal da tua partida.
E eu disse a todos desse teu fado,
Para esquecerem do teu chamamento,
Saberem que eras constituída
Da errante essência da água e do vento.
Todos quiseram ter-te, malgrado,
Prenúncios tantos, tantas ameaças,
Grande, adorada desconhecida,
Como é teu nome, coisa que passas?
Pisando terras e firmamento,
Com um ar de exausta gente dormida,
Abandonaram termos tranqüilos,
Portas abertas, áreas da vida.
E eu, que anunciei o acontecimento,
Fui atrás deles, com insegurança,
Dizendo que ia por dissuadi-los,
Mas tendo a sua mesma esperança.
No ardente nível dessa experiência,
Sem rogo, lágrima, nem protesto,
Tudo se apaga, preso em sigilos:
Mas no desenho do último gesto,
Há mãos de amor para a tua ausência.
E esse é o vestígio que não se some:
Resto de todos, teu próprio resto.
– Coisa que passas, como é teu nome?
Sendo assim, seja como for, feliz semana da Poesia! 🙂