Piano de Bairro
de José Guilherme de Araújo JorgeNa rua sossegada onde eu moro, – à tardinha,
quando em sombras o céu lentamente escurece,
– um piano solitário, em surdina, – parece
acompanhar ao longe a tarde que definha…
Nessa hora, em que de manso a noite se avizinha,
seus acordes pelo ar têm murmúrios de prece…
– Ah! quem não traz como eu também, na alma sozinha,
um piano evocativo que nos entristece?
Há sempre um velho piano de bairro, esquecido
na memória da gente, – e que nas tardes mansas
sonoriza visões de outrora ao nosso ouvido.
Seus monótonos sons, seus estudos sem cor,
repetem no teclado branco das lembranças
o inconcluso prelúdio de um longínquo amor!