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Invocação

de

Ó Sinai! Ó montanha assinalada
Dos pés do Onipotente!
Eu sinto inda soar a voz sagrada,
Que entre raios promulga a lei gravada,
No espírito inocente
Do homem justo. Ó livro grande e santo!
Tu me enches de assombro, horror e espanto!

Um povo antigo atesta a integridade
De tudo que em ti leio:
Com vivo fogo, augusta majestade
Me retratas do Eterno a potestade:
Do mundo firme esteio,
Único, providente, e bom o aclamas,
E em fervoroso amor minh’alma inflamas.

Quem do comum naufrágio,
Que o orbe inteiro em erros submergia,
Este povo salvou, e do contágio
Da cega idolatria?
Quem no meio de inóspito deserto
Do Imenso a mão lhe fez notar de perto?

E ainda temes, ó prezada lira
Levantar às estrelas
O sublime mortal, que Deus inspira,
Que de celeste força revestira,
E mil virtudes belas?
Ó Moisés! Tua voz não me alucina:
A voz, que soltas, é a voz divina.

Fervendo em santa ira abrasadora
Os crimes repreende
Do Hebreu ingrato, cuja fé traidora
A luz quebranta, que tua alma adora:
Seguro a vara estende;
Eis vejo a natureza espavorida
A teus pés humilhar a frente erguida.

O povo, de que és guia,
Mil vezes entre as brenhas estremece:
Ao ver que a terra, o mar, a noite, e o dia,
Que tudo te obedece;
Mensageiro fiel da divindade
Te reconhece, e afirma em tudo a idade.

Serás tu, porventura, o prometido
Medianeiro amável? …
Ah! Tu vens predizê-lo, e em tom subido,
Entoas de Jacó o recebido
O oráculo adorável.
Quem é, pois, esse augusto mensageiro,
Que o pranto há de enxugar ao mundo inteiro?

postado por em 16-05-2020