Consolação
de Olavo BilacPenso nas amizades sem raízes;
Nos afetos anônimos, dispersos,
Que tenho sob os céus de outros países...
Penso neste milagre dos meus versos:
Penso nas amizades sem raízes;
Nos afetos anônimos, dispersos,
Que tenho sob os céus de outros países...
Penso neste milagre dos meus versos:
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Ah! que eu não morra sem provar, ao menos
Sequer por um instante, nesta vida
Amor igual ao meu!
Um rosto de anjo, límpido, radiante...
Mas, ai! sob êsse angélico semblante
Mora e se esconde uma alma de mulher
E eu pisando a estrada, e eu pisando a estrada,
vendo o lago denso, vendo a terra de ouro,
com pingos de chuva numa luz vermelha...
A brisa vaga no prado,
Perfume nem voz não tem;
Quem canta é o ramo agitado,
O aroma é da flor que vem.
Virei-me sobre a minha própria existência, e contemplei-a:
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
E este abandono para além da felicidade e da beleza.
O fogo que na branda cera ardia,
Vendo o rosto gentil que na alma vejo.
Se acendeu de outro fogo do desejo,
Por alcançar a luz que vence o dia.
Numa rede de presenças
E ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Casa onde não mora ninguém, e eu batendo e chamando
Pela dor de chamar e não ser escutado.
Simplesmente bater.