Tristeza
de Álvares de AzevedoEu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro;
Como as horas de um longo pesadelo,
Que se desfaz ao dobre de um sineiro
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro;
Como as horas de um longo pesadelo,
Que se desfaz ao dobre de um sineiro
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compreender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto…
– E se eu der tudo o que tenho?
O que meu presente pode fazer?
Um pouco de sombra, apenas,
– vê que nem te peço alegria!
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…
Você sabe como é
Estar tão só
Que a escuridão e a luz
Se misturam?
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
O texto visível é o texto total
O antetexto o antitexto
Ou as ruínas do texto?