Canto de Amor
de Casimiro de AbreuMas se o canto da lira achares pouco,
Pede-me a vida, porque tudo é teu.
Mas se o canto da lira achares pouco,
Pede-me a vida, porque tudo é teu.
Reconcentrando-se em si mesma, um dia,
A Natureza olhou-se interiormente!
Esconde à Natureza o sofrimento,
E fica no teu ermo entristecida,
Alma arrancada do prazer do mundo...
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Em vão! Contra o poder criador do Sonho
O Fim das Coisas mostra-se medonho
Como o desaguadouro atro de um rio...
São despedaçamentos, derrubadas,
Federações sidéricas quebradas...
E eu só, o último a ser, pelo orbe adiante...
Era de vê-lo, imóvel, resignado,
Tragicamente de si mesmo oriundo,
Fora da sucessão, estranho ao mundo,
Com o reflexo fúnebre do Increado:
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
Se tanta pena tenho merecida
Em pago de sofrer tantas durezas,
Provai, Senhora, em mim vossas cruezas,
Que aqui tendes u'a alma oferecida.
No canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o Sem-Fim
Fator universal do transformismo.
Filho da teleológica matéria,
Na superabundância ou na miséria,
Verme - é o seu nome obscuro de batismo.