O Homem Público nº 1 (Antologia)
de Ana Cristina CesarHá uma fita
que vai sendo cortada
deixando uma sombra
no papel.
Há uma fita
que vai sendo cortada
deixando uma sombra
no papel.
Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.
Deixar o mundo sem pena
Buscar a aurora sorrindo
Será morrer?
Ficou o espírito, mais livre que o corpo.
A música, muito além do instrumento.
Ó noites claras de lua cheia,
Como eu vos amo, noites formosas!
Cargo muito pesado pra mulher,
Mas o que sinto escrevo.
Cumpro a sina.
As moscas iriam iluminar
O silêncio das coisas anônimas.
A voz se estendeu na direção da boca.
Remove pedras
e planta roseiras
e faz doces.
Recomeça.
Tenho desapetite
para inventar
coisas prestáveis.
Tudo se faz humilde em torno dela
por ser sua visão assim tão bela
Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Nem ama duas vezes a mesma mulher
Um homem que cultiva o seu jardim.
O que descobre com prazer uma etimologia.
O que prefere que os outros tenham razão.