O fazedor de amanhecer
de Manoel de BarrosTenho desapetite
para inventar
coisas prestáveis.
Tenho desapetite
para inventar
coisas prestáveis.
Tudo se faz humilde em torno dela
por ser sua visão assim tão bela
Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Nem ama duas vezes a mesma mulher
Um homem que cultiva o seu jardim.
O que descobre com prazer uma etimologia.
O que prefere que os outros tenham razão.
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Derribou-te, ó ave, um braço,
Mas abrindo asas no espaço
Ao céu voaste
Ó Moisés! Tua voz não me alucina:
A voz, que soltas, é a voz divina.
A medida certa,
punhal de prata,
para atravessar-me o peito
Eu venho terminar tua agonia;
Morre, não penes mais, ó desgraçado!
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Mesmo feita de amargura,
Quanta dor tu não redimes!
Feliz o que nos lábios,
No coração,
Na mente
Põe teu nome