Canção do Amor-Perfeito
de Cecília MeirelesEsperarei pelo tempo
Com suas conquistas áridas.
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 – Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964 ), foi uma jornalista, pintora, poetisa e professora brasileira.
Cecília nasceu no bairro Rio Comprido, na cidade do Rio de Janeiro. Seus pais eram Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil, e Mathilde Benevides Meireles, professora da rede pública de ensino fundamental (na época, ensino primário). Antes de Cecília nascer, sua mãe havia perdido seus outros filhos: Carlos, Vítor, Carmem. Carlos morreu três meses antes do nascimento de Cecília. Aos três anos de idade, sua mãe morreu, e Cecília se mudou para as imediações das ruas Zamenhoff, Estrela e São Carlos, passando a morar com sua avó materna, Jacinta Garcia Benevides, uma portuguesa nascida na Ilha de São Miguel, Açores, na época viúva e única sobrevivente da família. Ela criou a menina com ajuda de Pedrina, a babá da menina, que sempre lhe contava histórias à noite.
Cecília cursou o Ensino Fundamental I na Escola Municipal Estácio de Sá onde, ao concluir o curso em 1910, recebeu das mãos de Olavo Bilac, inspetor da escola, uma Medalha de Ouro Olavo Bilac pelo esforço e excelente desempenho “com distinção e louvor”. Nessa época, a garota já demonstrava paixão por livros, chegando a escrever seus primeiros versos. Também demonstrava interesse pela música, o que a levou estudar canto, violão e violino no Conservatório Nacional de Música, pois sonhava em escrever uma ópera sobre o Apóstolo São Paulo. No entanto, posteriormente, acabou se dedicando à literatura, tendo em vista que não conseguiria se dedicar com perfeição às muitas atividades simultaneamente.
Cecília Meireles possuía olhos azuis-esverdeados, era curiosa e sozinha, sobretudo por que sua avó não a deixava sair de casa para brincar, mesmo quando era chamada por outras crianças. Durante uma entrevista, Cecília disse que “em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar e nem me espantei por perder”. A infância solitária rendeu à futura escritora dois pontos que, para ela, foram positivos: “a solidão e o silêncio”.
1917-1935: Formação acadêmica e primeiro casamento. Em 1917, aos dezesseis anos de idade, formou-se na Escola Normal do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, onde teve como professores o historiador Basílio de Magalhães, a escritora infantil Alexina Magalhães Pinto e o poeta Osório Duque-Estrada. Por consenso, foi escolhida como oradora do grupo que formou-se com ela. A partir de então, passou a lecionar. Em 24 de outubro de 1922, já tendo publicado o seu livro de estreia, casou-se com o pintor, desenhista, ilustrador e artista plástico português Fernando Correia Dias, que havia se mudado para o Brasil em abril de 1914, radicando-se no Rio de Janeiro e contribuindo para o desenvolvimento das artes gráficas no país. A união dos dois gerou três filhas: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda. Além disso, a união com Correia Dias proporcionou à escritora um contato com o movimento poético em Portugal, no início do século XX, do qual Fernando Pessoa fez parte, e uma parceria na ilustração de sua obra. Porém, o casamento com o ilustrador não foi fácil: o casal passou por grandes dificuldades financeiras e o preconceito da época prejudicou o artista plástico e a professora. Segue-se um período difícil de perseguição mais ou menos velada, em que durante quatro anos, por ironia e desagravo de sua capacidade pedagógica, Cecília Meireles mantém uma página diária sobre educação no Diário de Notícias.
Escolas literárias: Parnasianismo, Modernismo, Simbolismo
Esperarei pelo tempo
Com suas conquistas áridas.
Com uma palavra tão doce,
de maneira tão serena,
que até Deus pensou que fosse
felicidade – e não pena.
E tão românticos seremos,
de tão magoado romantismo
Tudo imóvel… Serenidades…
Que tristeza, nos sonhos meus!
E quanto choro e quanto adeus
Neste mar de infelicidades!
Ninguém abra a sua porta
para ver que aconteceu:
saímos de braço dado,
a noite escura mais eu.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação…
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
Venho de longe e vou para longe:
mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho
e não vi nada
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar ?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto
Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.