A Rua dos Cataventos ( XXVI )
de Mário QuintanaManchas de sangue inda por lá ficaram,
Em cada sala em que me assassinaram...
Manchas de sangue inda por lá ficaram,
Em cada sala em que me assassinaram...
Amor é sempre amor, por mais que viva;
Não muda a sua essência primitiva,
Possa, embora, mudar a forma ou a cor.
(Naquele tempo, amigo, a tua vida era
Como uma pobre borboleta morta!)
No aconchego do claustro,
Na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima,
E lima, e sofre, e sua!
A ciranda rodava no meio do mundo,
No meio do mundo a ciranda rodava.
É que, abrindo a boquinha, sorridente,
Deixou ver a promessa, a perspectiva,
O breve ensaio do primeiro dente.
A torre, sobre as velhas casas,
Fica cismando como é vasto o mundo!
Que importava o amor perdido?
Que importava o naufrágio do orgulho,
A vergonha, a tortura do ódio?
Andam por tudo signos diversos
Impossíveis da gente decifrar.
O sacrifício do Calvário é um misto
De exaltação que chora e dor que canta;
Treva que morre e Sol que se levanta,
Num tumulto de mundos nunca visto.
Repara na canção tardia
que oferece a um mundo desfeito
sua flor de melancolia.
Fiquei sozinho... Mas não creio, não,
Estejam nossas almas separadas!
Às vezes sinto aqui...