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O Livro sobre Nada

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Com pedaços de mim eu monto um ser atônito. Tudo que não invento é falso. Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira. Não pode haver ausência de boca… O Livro sobre Nada

Palavras

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Palavra dentro da qual estou a milhões de anos é árvore.Pedra também.Eu tenho precedências para pedra.Pássaro também.Não posso ver nenhuma dessas palavras que não leve um susto.Andarilho também.Não posso ver a palavra andarilho que eu… Palavras

O Apanhador de Desperdícios

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Uso a palavra para compor meus silêncios.Não gosto das palavrasfatigadas de informar.Dou mais respeitoàs que vivem de barriga no chãotipo água pedra sapo.Entendo bem o sotaque das águasDou respeito às coisas desimportantese aos seres desimportantes.Prezo… O Apanhador de Desperdícios

Prefácio

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Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) —sem nome.Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.Insetos errados de cor caíam no mar.A voz se estendeu na direção da boca.Caranguejos apertavam… Prefácio

Convite

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Não sou a areiaonde se desenha um par de asasou grades diante de uma janela.Não sou apenas a pedra que rolanas marés do mundo,em cada praia renascendo outra.Sou a orelha encostada na conchada vida, sou… Convite

O Rebelde

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É um lobo do mar: numa espeluncaMora, à beira do Oceano, em rocha alpestre;Ira-se a onda e, qual tigre silvestre,De mortos vegetais a praia junca. E ele, olhando como um velho mestreO revoltoso que não… O Rebelde

O Viajante

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A manhã se ergue, lentamente,Sonolenta, cheia de orvalho;Qual bocejo de luz promordial,E estala fecundas raízes, profundamente,Entre as ramagens molhadas.O Viajante traça seu caminho, afinal,Sob o sol fresco e intermitente;E o potro persegue encurvado, silente,O tortuoso… O Viajante

Dois Rios

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O céu está no chãoO céu não cai do altoÉ o claro, é a escuridão O céu que toca o chãoE o céu que vai no altoDois lados deram as mãos Como eu fiz tambémSó… Dois Rios

Zé do Caroço

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Num serviço de auto-falanteNo morro do pau da bandeiraQuem avisa é o Zé do Caroço:Amanhã vai fazer alvoroço,Alertando a favela inteira! Ai! Como eu queria que fosse em MangueiraQue existisse outro Zé do CaroçoPra dizer… Zé do Caroço

Sei Rir-me

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Arda de raiva contra mim a intriga,Morra de dor a inveja insaciável;Destile seu veneno detestávelA vil calúnia, pérfida, inimiga. Una-se todo em traiçoeira ligaContra mim só o mundo miserável;Alimente por mim ódio entranhávelO coração da… Sei Rir-me

Science fiction I

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Talvez o nosso mundo se convexeNa matriz positiva doutra esfera. Talvez no interspaço que medeiaSe permutem secretas migrações. Talvez a cotovia, quando sobe,Outros ninhos procure, ou outro sol. Talvez a cerva branca do meu sonhoDo… Science fiction I

Mulher

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– “Já é demais! me disseste, – o teu ciúme é irritantee há de acabar na certa por nos indispor,fazes do meu viver um martírio constantee ao que vês, tu dás sempre afinal outra cor!”… Mulher