Explore os 20 poemas de Cecília Meireles, com textos completos e trechos comentados. Conheça a vida, o estilo e o legado de uma das maiores poetisas brasileiras.

Cecília Meireles é uma das vozes mais delicadas e profundas da literatura brasileira. Sua poesia combina musicalidade, espiritualidade e reflexão sobre o tempo, o amor e a efemeridade da vida.
Neste artigo, reunimos 20 poemas marcantes da autora — alguns reproduzidos na íntegra, outros comentados com trechos — para celebrar o legado de uma das maiores poetas da língua portuguesa.
Quem foi Cecília Meireles
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901–1964) nasceu no Rio de Janeiro e destacou-se como poetisa, professora, jornalista e pintora. Ligada ao Modernismo brasileiro, manteve uma voz própria: simbólica, musical e intimista.
Publicou mais de 20 livros de poesia, além de obras infantis, ensaios e traduções.
Entre seus títulos mais conhecidos estão Viagem (1939), Mar absoluto (1945) e Romanceiro da Inconfidência (1953).
Sua obra foi marcada por três temas centrais:
- O tempo e a transitoriedade da vida
 - A espiritualidade e o autoconhecimento
 - A busca pela harmonia entre o ser humano e o universo
 
20 Poemas Mais Belos de Cecília Meireles
1. Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
📖 Poema de abertura do livro “Viagem” (1939), resume toda a filosofia poética de Cecília Meireles: o canto como existência, o tempo como passagem.
2. Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
🪞 Um dos poemas mais conhecidos da autora, sobre a passagem do tempo e a perda da juventude.
3. Canção
Foste em minha vida a última aventura.
A última e a primeira:
tão alta, tão triste, tão pura…Foste o sonho impossível,
e o mais certo dos meus sonhos.
Foste o amor mais impossível,
e o mais amado dos amores.
🎵 Um poema curto e musical, onde amor e saudade se misturam em tom melancólico.
4. Leilão de Jardim
Quem me compra um jardim com flores?
borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol,
um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?
🌼 Poema infantil do livro Ou Isto ou Aquilo (1964), que encanta crianças e adultos pela imaginação lúdica e musicalidade.
5. Ou Isto ou Aquilo
Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
☀️ Um dos poemas infantis mais populares de Cecília, que reflete com leveza sobre as escolhas da vida.
6. Elegia
De que serve a tristeza?
Ela ensina o silêncio.
Ensina o tempo e o vento,
e a solidão das horas.
💭 Um poema breve, de tom filosófico, que representa o lirismo espiritual da autora.
7. Romanceiro da Inconfidência (trecho e contexto)
O livro é uma narrativa poética sobre a Inconfidência Mineira. Escrito em forma de romances populares, mistura história e lirismo.
Trecho:
“E foi por este ouro, talvez,
que os homens se fizeram cegos…”
📚 É considerado o ápice de sua maturidade poética — um monumento à liberdade e à memória brasileira.
8. Mar Absoluto (trecho)
“O mar é o mesmo, o mesmo mar antigo,
que se abre em ondas como um coração…”
🌊 Símbolo da infinitude e da solidão humana, o mar aparece como metáfora constante em sua obra.
9. Pescaria
Pescador, deixa o mar,
deixa o peixe, deixa o sal…
Pescador, vem repousar:
o teu sonho é imortal.
🎣 Uma ode à paz interior, ao descanso e à contemplação do espírito.
10. Serenata
Permite que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensa tu que eu fico ouvindo
o bater do teu coração.
🎶 Uma poesia que mistura amor e música, marca registrada da escritora.
11. Epigrama n.º 2
Se morre um poeta, o mundo fica mais pobre.
Mas se morre um homem e nasce um poema,
o mundo enriquece.
📜 Uma reflexão sobre a imortalidade da arte.
12. Cântico
Não queiras ter casa.
Onde todos passam,
onde todos dormem,
onde todos sonham.
🌿 Poesia espiritual e simbólica, em que o desapego e a fluidez são celebrados.
13. Elegia da Solidão
A solidão é um espelho
que não devolve ninguém.
Tudo o que mostra é silêncio,
tudo o que mostra é além.
14. Romance LIII – da Inconfidência
“Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda!”
🔥 Os versos mais célebres do Romanceiro da Inconfidência — símbolo da poesia de resistência.
15. Encontro
Entre o sono e o sonho,
entre mim e o que em mim é o que eu vejo,
passa um rio de sombra e esquecimento.
16. Canção das Águas
Passam rios, passam mares,
passa a vida, passa o tempo.
Só não passa o pensamento
de te amar e de esperar.
17. Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
💌 Poema conhecido por seu tom filosófico e intimista.
18. Canção Excêntrica
Eu canto porque o instante existe…
— mas canto fora de hora,
e ninguém me ouve.
19. Soneto
Amor, eterno e breve,
que foste tudo e nada,
deixa-me a alma leve,
livre, desenganada.
20. Último Poema
Não quero que se apaguem as lembranças,
nem que morram os meus sonhos,
mas que fiquem suspensos, como estrelas,
no silêncio dos meus anos.
Conclusão
A poesia de Cecília Meireles é uma celebração do instante e uma meditação sobre o ser.
Seus versos atravessam gerações por sua linguagem pura, musical e filosófica, tornando-a uma das maiores vozes femininas da literatura em língua portuguesa.