O Meu Nirvana
de Augusto dos AnjosEncontrei, afinal, o meu Nirvana!
Mas se o canto da lira achares pouco,
Pede-me a vida, porque tudo é teu.
Reconcentrando-se em si mesma, um dia,
A Natureza olhou-se interiormente!
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Era de vê-lo, imóvel, resignado,
Tragicamente de si mesmo oriundo,
Fora da sucessão, estranho ao mundo,
Com o reflexo fúnebre do Increado:
No canteiro, uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o Sem-Fim
Fator universal do transformismo.
Filho da teleológica matéria,
Na superabundância ou na miséria,
Verme - é o seu nome obscuro de batismo.
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Posso agora dizer ao tempo, em seus rigores:
- Não envelheço, não! podeis correr, sem calma,
Levando na torrente as vossas murchas flores
Ninguém há de colher a flor que eu tenho n'alma!
Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram