Poetas
de Florbela EspancaSó quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas
Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas
Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só.
Assim que a vida e alma e esperança,
E tudo quanto tenho, tudo é vosso,
E o proveito disso eu só o levo.
Ninguém passa na estrada.
Nem um bêbado.
No entanto há seguramente por ela uma procissão de sombras.
Por que João sorria
se lhe perguntavam
que mistério é esse?
E propondo desenhos figurava
menos a resposta que
outra questão ao perguntante?
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Companheiro,
Eu sou tu, sou membro do teu corpo e adubo da tua alma.
Sou todos e sou um
A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me
A vós, lado patente, quero unir-me