Estátua
de Camilo PessanhaCansei-me de tentar o teu segredo
No teu olhar sem cor…
Cansei-me de tentar o teu segredo
No teu olhar sem cor…
Que as tuas mãos saibam colher
aquilo que não foi…
Sabe Deus se te amei!
Sabem as noites
essa dor que alentei,
que tu nutrias!
E do ventre de além-mundo,
Sete crianças gritando
Na boca dos fuzilados…
– Qual a mais forte das armas,
A mais firme, a mais certeira?
E dizer-se que não tens nervos, ó nervosa,
Dizer que não tens alma!
Tão pequenina és tu, e, astuta e laboriosa…
Estás morto, estás velho, estás cansado!
+Tudo se apaga,
e se evapora,
e perde,
e esfuma…
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca ri alegremente!
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Se eu soubesse que no mundo
Existia um coração,
Que só por mim palpitasse
Por ela tudo daria…
Ao lado do infante,
O homem e a mulher:
Uma tal Maria.
Um José qualquer.