A Rua dos Cataventos ( XXI )
de Mário QuintanaFiquei sozinho... Mas não creio, não,
Estejam nossas almas separadas!
Às vezes sinto aqui...
Fiquei sozinho... Mas não creio, não,
Estejam nossas almas separadas!
Às vezes sinto aqui...
Camões sofre, na infâmia de clausura,
Pária sem honra, náufrago sem nome...
Eu nada mais desejo, nem a morte...
Delícia de ficar deitado ao fundo
Do barco!
Existe em nós um grande amor adormecido
Que sentimos vibrar dentro do nosso eu;
Será recordação de um afeto perdido?
Minha morte nasceu quando eu nasci.
Mas inda agora a estou sentindo aqui,
Grave e boa...
Morreste, em plena orgia, e a saudade terás,
Herói folião, dos carnavais hilares...
De olhos vítreos, parados, a serpente
Fita a mísera rã hipnotizada
E tu não vieste, sob a paz lunar,
Beijar os seus entrefechados cílios
E as dolorosas bocas...
Perdi-me na existência,
Entre os homens.
E encontrei-os, vivos, bem vivos!
A tarde pobre fica,
horas inteiras,
a espiar pelas vidraças
Vencer ou ser vencido
- Eis o dilema na existência -
Do instante da partida, até chegar...
As minhas mãos, velas paradas,
Não sei que frêmito as agitou!