Os Dois Horizontes
de Machado de AssisAo nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.
Tudo se arranca do seio,
- Amor, desejo, esperança...
Só não se arranca a lembrança
De quando se foi feliz.
Derramo os olhos por mim mesmo... E, nesta
muda consulta ao coração cansado,
que é que vejo? que sinto? que me resta?
Nada
Longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
E todo mundo que por ela passa
Há de beber a taça da cicuta
E há de beber até o fim da taça!
Vivo longe de ti, mas que me importa?
Se eu já não vivo em mim! Ando a vaguear
Em roda à tua casa...
E eu aqui a chorar nesta noite tão fria!
Agonia, agonia, agonia, agonia!
Do que restou, como compor um homem
e tudo que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, murmúrios
de riso, entrega, amor e piedade?