Círculo Vicioso
de Machado de AssisBailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
-“Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
-“Pudesse eu copiar o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!”
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
-“Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!”
Mas o sol, inclinando a rútila capela:
-“Pesa-me esta brilhante auréola de nume
Enfara-me esta azul e desmedida umbela
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?”
postado por Ederson Peka em 22-03-2006