Meus Oito Anos
de Casimiro de AbreuOh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...
O texto visível é o texto total
O antetexto o antitexto
Ou as ruínas do texto?
Em cada sentimento meu...
Tem um sentido...
E um rumo inexistente...
Já o verme - este operário das ruínas -
(...)
Anda a espreitar meus olhos para roê-los
Será o ser algo desdobrável
Ou incorruptível ao ponto único
De não ter mais nada em si
Do que a própria estrutura de ser?
Esta chama que alenta e consome,
Que é vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear?
Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo
Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está ligada.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada