Dona Doida
de Adélia PradoQuando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Mas por não se lembrar de acalantos,
a pobre mulher
me ninava cantando cantigas
de cabaré
Numa solidão de asceta,
não vê o mundo em volta.
Só a bola.
Por que me fiz poeta?
Porque tu, morte, minha irmã,
No instante, no centro
De tudo o que vejo.
Conheço esses ratos
já os vi matar
então o que eu preciso
é uma crença diferente.
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm.
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos
do que um campo de flores.
Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;
Mas a profunda saudade
é Maria...
Bem-aventurado o que pressentiu
quando a manhã começou:
não vai ser diferente da noite.
Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.