Versos a Uma Taça
de José Guilherme de Araújo JorgeNasceu para servir ao estranho ritual
dos festins, - no cristal puríssimo, sem jaça
reflete da loucura o cortejo triunfal
que alegre, ao seu redor, todas as noites, passa...
Quanta dor já entornou! Quanta alma turva e baça
já a ergueu na ilusão de esquecer o seu mal...
Leva o vinho que apaga a tristeza e a desgraça
e põe na boca um riso inconsciente e boçal!...
Destino estranho o seu! No seu cristal sem bruma
vive num mundo à parte, e insensível parece
ao vinho que transborda e ao champanha que espuma...
E boêmia há de acabar, num último tinir
como as almas que embriaga, e aniquila, e enlouquece,
do seu próprio destino... espedaçada, a rir!