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O Viajante

de

A manhã se ergue, lentamente,
Sonolenta, cheia de orvalho;
Qual bocejo de luz promordial,
E estala fecundas raízes, profundamente,
Entre as ramagens molhadas.
O Viajante traça seu caminho, afinal,
Sob o sol fresco e intermitente;
E o potro persegue encurvado, silente,
O tortuoso eco de suas pisadas.
Viajante,
Não ouves o suave cantarolar dos pequeninos,
Com sabor do ameno sol da manhã,
Aquecido na onda feita de espuma?
Ou o cheiro da noite fresca da brisa em pluma
Gotejando a lua no flamboyant?
A vereda escarmenta, a erva,
Sob as folhas que furtam o sol ao dia,
E a tarde cai...
Seguem inseguros ospés que arrancam torrões,
Que saltam e rolam aos montões,
Barranco abaixo, por onde vai.
E vai só, o viajante,
Recolhendo a luz, de raio em raio.
Não escuta o silvo do declive, constante,
Nem o destino a murmurar.
Não vê que o caminho dá a sua recompensa
A quem por ele sabe andar.
Viajante,
Vê que te dão nomes, sabem quem és,
Que as tuas proezas pregam...
São testemunhas fiéis.
Que o amor te envolve e te acoberta,
Te sopra desde o ninho familiar,
Pela porteira entreaberta.
Por que te menosprezas, se tudo te basta,
Se te cobrem as rosas e os lauréis?
O Viajante não ouve;
Segue o ritmo do caminho.
Tampouco sente
O arroubo do silêncio, vai sozinho;
E as úmidas rosas na noite escura
Estalam em suas frontes,
Enchendo o ar com sua amargura.
Ele, porém, somente escuta
A pulsação eterna do caminho.

8/1983, Mayagüez, Porto Rico

postado por em 02-10-2003