O Mar
de Cruz e SousaÓ mar! ó mar! embora esse eletrismo,
Tu tens em ti o gérmen do lirismo,
És um poeta lírico demais.
Ó mar! ó mar! embora esse eletrismo,
Tu tens em ti o gérmen do lirismo,
És um poeta lírico demais.
Ânsia de procurar sem encontrar
A chama onde queimar uma incerteza!
Tudo é vago e incompleto!
Ora dá-se!
Mas que terrível idiossincrasia!
Este anjo tem as regras de sintaxe!
Velhas tristezas
das almas que morreram para a luta!
Sois as sombras amadas de belezas
hoje mais frias do que a pedra bruta.
Ai! Pobre coração!
Assim vazio e frio
Sem guardar a lembrança de um amor!
É por aqui que passam meditando,
Que cruzam, descem, trêmulos, sonhando,
Neste celeste, límpido caminho,
Os seres virginais que vêm da Terra
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.
Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida...
Ao meu amor desamparado e triste
Toda a esperança de alcançar-vos nego.
Digo-lhe quanto sei, mas ele insiste...