A Valsa
de Casimiro de AbreuNa valsa tão falsa, corrias, fugias,
Ardente, contente, tranqüila, serena,
Sem pena de mim!
Na valsa tão falsa, corrias, fugias,
Ardente, contente, tranqüila, serena,
Sem pena de mim!
No mistério solitário na penugem
Vê-se a vida correndo, parada
Como se não existisse chegada
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto.
O mal, que fora encubro, ou que desminto,
Dentro no coração é que o sustento
A saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias.
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!
Pelo meu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas...
Talvez um dia entenda o teu mistério...